Elas surgiram na internet para lembrar os princípios esquecidos do Jornalismo e encarar sem medo temas espinhosos. Desde o final de 2014, Cris Bartis e Juliana Wallauer comandam o podcast Mamilos com o objetivo claro de debater temas polêmicos com inteligência, bom humor, empatia e respeito.
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A ideia surgiu a partir da participação delas no Braincast 129, projeto do portal B9, sobre Teste de Bechdel (se você não conhece o Mamilos ou esse tema, comece justamente por aí). Pegaram gosto e, quem ouviu, queria mais. No turbilhão das eleições do ano passado, decidiram que levantar pautas quentes com informação era (continua sendo) imperativo. E sair dos debates rasos das timelines é uma questão universal.
Já são 41 programas que alcançam, em média, 30.000 ouvintes cada. Ambas têm trajetória em agências de publicidade — Juliana é Planner e Cris é Diretora de Criação Executiva — e estarão no Evento Mulheres Digitais no próximo sábado, 10, para gravar um podcast com a participação da plateia. Saiba como obter um desconto de 40% aqui. Confira o bate-papo:
1. Como vocês se preparam para o programa?
A gente pesquisa e monta uma pauta. Primeiro escolhemos as notícias pelos temas que achamos mais relevantes comentar. Depois pesquisamos o que de fato aconteceu, qual é o contexto, o cenário, buscamos opinião e estatística em diferentes veículos para tentar encontrar uma visão mais abrangente do tema. Também pedimos indicação dos ouvintes que nos enviam links com novos dados e visões. Revezamos os colaboradores e procuramos equilibrar a pauta para aproveitar melhor as expertises de cada um dos que estão na mesa.
2. Como é a participação e interação com os ouvintes?
Respondemos e-mail, comentário na página e nas redes sociais. O nível do debate é absolutamente impressionante. A entrega que temos no preparo do programa é muito recompensada pelo esforço que todos fazem em escutar, absorver, refletir e só então contribuir para o debate trazendo novos pontos, novos argumentos. A grande conquista do Mamilos é conseguir inspirar um debate de alto nível, sem ataques pessoais, no qual as pessoas estão dispostas a ouvir opiniões muito diferentes das delas.
3. Qual a importância de levantar polêmicas e dissecá-las?
Uma democracia será tão boa quanto o Jornalismo que tivermos. Que escolha podemos fazer se as informações que chegam até a gente são distorcidas, deturpadas, manipuladas? Somos inundados de informação descartável, incompleta, irrelevante todos os dias. Como filtrar e saber o que é essencial? Como entender o que realmente está acontecendo? Ninguém tem tempo de pesquisar profundamente cada assunto. Esse é o trabalho fundamental do jornalismo, que está péssimo. Ninguém confia no que lê, e assim as pessoas selecionam as matérias pelo alinhamento com o que elas já acreditam, criando uma bolha de distorsão. É fundamental que a gente resgate os marcadores de uma boa matéria. Contextualizou os fatos? Mostrou pontos conflitantes com o mesmo respeito e cuidado? Foi além da superfície, além do óbvio, do fácil? Se ficarmos mais críticos com o que consumimos quem produz vai precisar melhorar a qualidade.
4. As “tretas” na internet podem ajudar na construção de debates melhores?
Depende. A treta polariza. Ridiculariza e não faz ninguém mudar de ideia. É um turbilhão, uma fogueira de vaidades que consome a todos. Não é com treta que os debates vão melhorar, mas com calma, com clareza, criando um ambiente seguro para que as pessoas baixem a guarda e venham de coração e mente aberta pra tentar juntos fazer algum sentido da realidade caótica que dividimos, cada um contribuindo com uma peça do quebra cabeças.
5. O que vocês mais gostam nesse projeto do Mamilos?
A interação com as pessoas. Todas as pessoas formidáveis que conhecemos por ter a cara de pau pra convidar estranhos para participar de um projeto desconhecido e embrionário e todas as pessoas que inspiramos nessa jornada que nos enriquecem com relatos encantadores.
6. Empatia para vocês é…
Se dispor a deixar o lugar confortável que faz sentido, a disposição de mundo e ideias que demoramos tanto pra organizar, pra ter a experiência incômoda, revolucionária e transgressora de ver, sentir e entender sob o olhar e a experiência do outro.
7. O que vocês andam lendo?
Justiça – O que é fazer a coisa certa, do Michael Sandel. Meio Sol Amarelo, da Chimamanda Ngozi Adichie.
8. Algumas mulheres que vocês indicam para seguir na internet.
Gica Yabu, Thais Fabris, Anna Karina, Itali Collini e Rebeca Lerer.
Gostou dessa história? Indique pra gente pessoas que você gostaria de ver por aqui pelo e-mail tutano@trampos.co. Confira outras entrevistas no link.
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