– E como tem ido o negócio do fulano?
– Tá fazendo sucesso, atendendo vários clientes!
Se você é do mundo dos business, certamente já presenciou esse tipo de diálogo. É comum a gente definir o sucesso de um negócio pela quantidade de clientes que ele atende. E quando se trata de um freelancer, a métrica é a mesma?
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Pergunto isso porque vejo por aí muito profissional independente se perdendo na poeira. Na ânsia de fazer grana, aceita vários projetos juntos e depois não consegue entregar. Além de queimar o filme do seu próprio negócio, acaba contribuindo pro estereótipo de que o freelancer é uma mão de obra de risco, não confiável, que pode desaparecer a qualquer momento sem entregar o projeto.
Atender a vários clientes ao mesmo tempo não é tarefa pra qualquer um. Do lado do profissional independente, muitas vezes falta organização, falta transparência no trato com o cliente e falta também conhecer a sua própria capacidade de produção. Assim ele calcula mal o prazo, calcula mal o preço e erra o pulo bonito. Lá se vão noites de sono perdidas pra entregar todos os projetos. Se entregar.
Amigo freelancer, não adianta bancar o super-homem/super-mulher. Por mais que você acredite ter vários superpoderes, a sua capacidade de produção é finita. Ou como diz um amigo meu: “o forno tem um limite”. É preciso aceitar isso, pelo bem da sua saúde física/mental e pela longevidade do seu negócio.
Quando você se propõe a trabalhar para diversos projetos ao mesmo tempo, não pode focar só no dinheiro que vai entrar. É preciso avaliar o tempo que você terá que dedicar pra cada um desses projetos. E não dá pra considerar apenas o tempo de produção em si. Tem que considerar as horas dedicadas a responder e-mails, as horas dedicadas ao planejamento, as horas dedicadas ao deslocamento para reuniões, as horas dedicadas ao atendimento e por aí vai… é preciso contabilizar tudo que exige a sua atenção.
Vejo muito profissional se vendendo barato e deixando de considerar tudo isso. Toma prejuízo e se acha bem-sucedido. Atender vários clientes não é comprovante de ter sucesso. Isso só indica que você tem bastante trabalho. E que ainda vai ter que correr muito pra manter tudo nos eixos.
Sucesso como freelancer é conseguir ser remunerado adequadamente e ter um horário saudável de trabalho. Pra atingir esse objetivo, é preciso sim trabalhar bastante, mas além disso, é preciso lutar por melhores preços e inclusive negar alguns trabalhos.
Negar um serviço não faz de você uma pessoa que não gosta de trabalhar. Se esse for o seu problema: desencana! Dizer “não” é importante pra você poder dar mais atenção aos clientes e projetos que precisam (e merecem) mais atenção. Quando você aprende a negar alguns clientes e trabalhos, você sobe de nível na escala freelancer. Quando você aprende a dizer “não” pra trabalhos fora do seu perfil, você passa a abrir espaço na pauta para trabalhos realmente relevantes que possam vir a surgir. Sem falar que em alguns casos você vai ter que negar trabalhos que gostaria de fazer, pela simples razão de não haver mais espaço na pauta.
Entre os freelancers, há um medo generalizado de ficar sem trabalho e de não conseguir pagar as contas no fim do mês. Ta aí o motivo de muito profissional pegar mais trabalho do que consegue entregar. E o pior é que alguns clientes já se deram conta disso e justamente optam por freelancers pois os enxergam como mão de obra barata e desesperada.
Cabe ao freelancer se posicionar e negar condições abusivas. E ainda deve ficar de olhos bem abertos. Trabalhar pra quem só quer pagar pouco não é um bom negócio. Pode virar um círculo vicioso e sem final feliz pros dois lados. O freelancer vai ter de correr atrás de mais clientes pra complementar a renda. O cliente não vai receber a atenção que merece e ainda vai receber um projeto feito sem dedicação e de qualidade questionável. Assim a relação se encerra de forma frustrada e prematura por falta de uma negociação saudável no início.
Outro dia um cliente novo me solicitou um orçamento. Passei o valor. Ele achou caro e me propôs pagar 10% a menos e ainda acrescentou três vezes mais trabalho na proposta. Assim mesmo, na cara dura! Achei um absurdo e educadamente pulei fora da negociação. Não é o tipo de cliente pra quem eu pretendo trabalhar. Pra minha surpresa, ele acabou voltando atrás e aceitou o meu primeiro orçamento. Vejo que agora ele me olha como um parceiro de negócios e não mais como um prestador de serviços desesperado.
Eu prefiro trabalhar pra dois clientes que paguem bem e que me levem a sério do que trabalhar pra dez clientes que só se interessam por preço baixo e não dão a mínima para o meu trabalho em si. Sem contar que acho humanamente impossível trabalhar com qualidade pra dez projetos ao mesmo tempo. Preciso ter imersão no trabalho, só assim consigo captar a essência do job para resolver ele do jeito certo.
Você pode estar pensando: “o difícil é achar clientes que paguem bem”. É verdade. Eu concordo. Mas talvez eles sejam tão raros de encontrar porque é difícil achar freelancers que “cobrem bem” também. Você já pensou nisso?
O movimento de valorização dos freelancers nunca vai partir dos clientes. É papel do trabalhador independente se valorizar, aumentar a autoestima e negociar sem medo. Peça mais dinheiro, se necessário. Brigue por mais prazo, não tenha vergonha. Avise que só pode começar o projeto daqui há 15 dias, isso soa profissional da sua parte. Esqueça um pouco as contas chegando, tente deixar isso não influenciar nas suas negociações. É difícil, eu sei. Mas com um passo de cada vez é possível chegar lá. É só começar.
Tenho certeza que com um ajuste aqui, outro ali, é possível conquistar uma melhor carteira de clientes, projetos mais interessantes e também melhores condições de trabalho. E com isso não vem só grana, vem mais tempo livre e qualidade de vida. Acho que isso sim é sucesso de verdade. Você não acha?
Esse texto é uma colaboração de Henrique Pochmann, autor do blog Aparelho Elétrico. Caso você também queira colaborar com conteúdos, entre em contato pelo e-mail tutano@trampos.co.
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